Classe Médica

Classe Médica
"É vedado ao médico discriminar o ser humano de qualquer forma ou sob qualquer pretexto." (Capítulo IV, Art. 47, Resolução CFM nº 1.246/88, DE 08.01.88)

Com essa justificativa, e inspirados pelos casos de xenofobia ocorridos atualmente, criamos este blog para melhor compreender e avaliar a conduta e a participação dos médicos frente às questões sociais.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O tímido retorno do parto humanizado - e o motivo de seu sumiço


 O Brasil está entre os primeiros países na porcentagem de partos cesáreos realizados. Mas por que esse índice é alarmante? Porque o parto feito por cesariana é uma cirurgia, e pode gerar hemorragia, infecções e danos a órgãos internos da gestante. E Isso tudo muitas vezes ocorre sem que fosse necessário, pois são poucos os casos de necessidade de cesárea, recomendada apenas quando há complicações. É consenso, e preconizado pelo Ministério da Saúde e pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, que o parto normal é menos arriscado, tanto para a mãe quanto para o bebê. Este, inclusive, recebe inúmeros benefícios na escolha do parto normal: durante o parto, a mãe produz ocitocina, hormônio que estudos indicam ser capaz de proteger o recém-nascido de danos no cérebro e ajudar no amadurecimento cerebral, e também prolactina, que favorece a amamentação.

 Todos já ouvimos histórias sobre o quão doloroso e horrível pode ser um parto normal. Mas quando foi que esse distanciamento da fisiologia natural do parto começou? É possível que tenha sido a partir de uma mescla da criação de instâncias do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), que passaram a determinar que um médico só receberia se participasse efetivamente do parto, com a solução de cirurgia única para a laqueadura (esterilização feminina). Para piorar, os valores de ambos os partos - normal e cesárea - ficaram com uma diferença mínima. A escolha do obstetra, então, seria em preferir fazer uma cirurgia rápida e que poderia ser marcada com antecedência do que ter de ficar de prontidão durante todo o trabalho de parto da mulher, algo que pode durar várias horas.

 Com a valorização do parto cesáreo, as equipes obstétricas preparadas para auxiliar no parto normal foram se desfazendo, as faculdades passaram a focar menos no parto natural e muitos leitos hospitalares em ginecologia e obstetrícia foram perdidos; tudo isso culminando numa grande indústria da cesárea.

 O parto humanizado, porém, vem ganhando espaço em meio ao caos cesáreo. A Organização Mundial da Saúde preconizou algumas condutas antes, durante e após o parto que devem ser encorajadas ou não (podem ser analisadas aqui), muitas das quais serviram de argumentos pró parto natural e contra o tratamento hospitalar recebido pelas parturientes por cesariana. Relatos de casos de tratamentos desumanizados provocaram muitas manifestações, nas quais as mulheres exigiam o direito sobre seus corpos, suas escolhas e seus filhos após o nascimento. Além disso, muitos estudos também foram realizados com o objetivo de analisar os benefícios e os riscos de cada tipo de parto.


"Com 52% dos partos feitos por cesarianas - enquanto o índice recomendado pela OMS é de 15% -, o Brasil é o país recordista desse tipo de parto no mundo. Na rede privada, o índice sobe para 83%, chegando a mais de 90% em algumas maternidades. A intervenção deixou de ser um recurso para salvar vidas e passou, na prática, a ser regra. [...]
As pesquisas da Fiocruz mostram a 'baixa informação recebida pelas mulheres em relação às vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de parto e a baixa participação do médico como fonte desta informação'. [...] O estudo e os profissionais de saúde ouvidos pela BBC apontam que as grávidas, de todas as classes sociais, estão longe de estarem bem informadas. [...]
A falta de informação no pré-natal faz com que não haja espaço para esclarecimentos de como a mulher pode lidar com a dor ou outros aspectos, como o que exatamente vai acontecer no parto e como se preparar. [...]
O Ministério da Saúde também informou que não recomenda o uso de ocitocina para aceleração do parto e lembrou que o governo vem tentando combater o número crescente de cesáreas, com iniciativas como a criação da Rede Cegonha e das chamadas Casas de Parto, que têm como metas incentivar o parto normal humanizado."



"Não se pode negar que a cesariana é um recurso valioso para salvar vidas e deve ser usada num quadro crítico. Pode ser o caso, por exemplo, de quando o cordão umbilical sai antes do bebê, durante o parto, fenômeno conhecido como prolapso. Isso corta o fluxo de sangue para a criança. A situação deve ser resolvida em minutos, caso contrário o bebê morre. No entanto, a cesárea é em geral mais arriscada e pode trazer prejuízos para a mãe e o bebê. "


  • "Parto humanizado: um direito a ser respeitado" - artigo que engloba a história do parto e as recomendações da OMS, com o objetivo de conhecer o perfil de puérperas do local de estudo e verificar se os direitos dessas parturientes estavam sendo respeitados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário